Eles vivem entre a vida e a morte. Muitos deles, ainda, tiveram a primeira experiência na linha de frente durante as operações em que o 11º BPE teve participação. É o caso do Tenente Antônio Franklin Mendonça Pereira, que se formou em 2015, na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Logo após ter se formado, Antônio Franklin foi para o batalhão. “Na AMAN, eu não conhecia muito sobre a PE. No quarto ano, quando a gente escolhe a unidade que iremos servir, comecei a pesquisar sobre as atividades que a polícia faz. Eu escolhi o 11º BPE por ser uma unidade nova, eu acreditei que eu poderia aprender e contribuir muito mais aqui”, conta.
Iniciando na formação de recrutas, o Tenente logo pediu transferência para a 1º Companhia de Polícia, com o intuito de participar das operações de segurança dos Jogos Olímpicos de 2016. “Foi uma experiência muito boa, tive situações que me colocaram à prova, como quase ser atropelado por um carro em fuga, ter que efetuar disparos e prisão do indivíduo que estava conduzindo o veículo”, relata.
Atuando como comandante do 1º pelotão, Antônio tem participado de quase todas as missões da intervenção federal. Ele também esteve presente na Força-Tarefa Conjunta Capixaba que aconteceu em 2017, no Estado do Espírito Santo, devido à paralisação da Polícia Militar na respectiva região. Assim, o Tenente comandou o único pelotão de Polícia do Exército daquela força-tarefa.
“Foi uma experiência gratificante. Ficamos 32 dias direto no Espírito Santo e eu pude empregar não só meu conhecimento operacional, como também o conhecimento afetivo, porque depois de 15 dias o soldado queria voltar para casa, e começou a ficar desmotivo por estar longe da família”, relembra.
Os desafios do lado emocional, porém, também eram sentidos por Antônio. Apesar disso, toda vez que ele encontrava um soldado desmotivado, ele optava pelo diálogo: fazia questão de ouvir os seus subordinados.
“Nessa época, um soldado me falou que a mãe dele estava internada. Eu disse que ele poderia partir, mas que iria desfalcar a equipe. No entanto, não iria me sentir bem se algo acontecesse com mãe dele, sendo que ele teve a oportunidade de vê-la pela última vez e eu ter negado isso. Falei com o comandante da força-tarefa a respeito. Graças a Deus, o pior não aconteceu e eu fiquei com a consciência tranquila nesse aspecto. Eu me coloquei no lugar dele”, relata.
“Cabe ao comandante ter esse sentimento de ver o que está acontecendo, não apenas cobrar”, analisa Antônio.
O comandante do 3º pelotão de polícia, Tenente Vinicius Macedo Soares Tavares, teve uma trajetória distinta até chegar ao 11º BPE. Ao sair da Academia, Vinicius foi para a cidade de Tefé, interior do Amazonas, para servir no 17º Batalhão de Infantaria de Selva, localizado em Tefé, interior do Estado do Amazonas. Enquanto esteve na selva, ele atuou na formação de recrutas e em operações de combate a crimes na fronteira.
Ao chegar no Rio de Janeiro, ele se deparou com uma realidade muito diferente. Mesmo sendo carioca, voltar para a região onde nasceu foi tão desafiadora quanto deixá-la naquela época. “O retorno não foi muito simples, tendo em vista a diferença da atividade realizada pela Polícia do Exército e pelo fato de isso não ser muito abordada durante a nossa formação”, conta.
Para ele, uma das experiências mais marcantes aconteceu durante a megaoperação realizada no Complexo da Maré, da Penha e do Alemão, em agosto de 2018. “Ficamos no famoso teleférico e patrulhamos diversas vielas e becos dos complexos. Eu nunca tinha visto aquela realidade tão de perto. Aprendi, nesse pouco tempo, que devemos confiar em nossos subordinados, assim a missão será bem cumprida”, relata Vinicius.
Vivemos em uma guerra irregular?
O Tenente Igor Saldanha dos Santos entrou para o Exército Brasileiro com uma visão bem definida acerca de sua carreira, mas amadureceu a partir das experiências que adquiriu no 11º BPE. Formado pelo Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR-RJ), o tenente temporário de 23 anos já foi comandante de pelotão, mas hoje ocupa o cargo de Chefe da Seção Jurídica do batalhão. Com formação em Direito, Saldanha tem interesse em estudar os desdobramentos da crise de segurança pública no Estado do Rio de Janeiro.
“Eu cheguei aqui em 2015, e o batalhão já tinha uma atividade diferente, mas em 2016 as coisas começaram a mudar com as Olimpíadas. No meio do ano passado, ocorreu o decreto de Garantia da Lei e da Ordem. A partir daí, e começamos a atuar com operação de presença em linhas expressivas e entorno das comunidades. O estopim foi a operação na Rocinha, que aconteceu em 2017, quando a comunidade foi tomada por duas facções rivais. Para mim, foi um divisor de águas. Nós fomos recebidos com tiro”, relembra.
Então, veio a intervenção federal. “A questão não era só operacional, era uma questão de logística e coordenação, então a intervenção foi na área de segurança pública. A partir daí, foram mais de 30 comunidades envolvidas nas operações aqui no Rio de Janeiro. Já recebemos tiros, já tivemos que efetuar disparo. A guerra que a gente vive é essa”, afirma.
Durante a formação, Saldanha nunca imaginou que passaria por essas situações. “Com 18 anos, entrei no Exército, aos 19, estava na tropa. Quando a gente é jovem, não temos medo de morrer. A gente acha que é super-homem, e queremos colocar em prática no confronto o que nós aprendemos. Mas quando eu comecei a viver isso cotidianamente, quando minha tropa começou a receber tiro, e vi companheiros meus morrerem, minha visão mudou. Achei que éramos invencíveis, mas não é verdade. A gente é de carne e osso. Jamais vou deixar de agir por medo, mas o medo é presente sim. Penso nos meus familiares. Conviver com um tiro de um soldado deve ser horrível”, relata.
O conhecimento na área de Direito permitiu que Saldanha aprofundasse na questão das guerras irregulares. “É diferente do que aprendemos na escola, onde temos o exército azul e o exército vermelho. Na compreensão de guerra irregular, trazendo para a realidade do Rio de Janeiro, muitas vezes não sabemos quem é o nosso inimigo. Somos recebidos a tiro, procuramos a pessoa e as vezes não achamos. Ele não está uniformizado igual a gente, ele pode estar junto com uma senhora, com um trabalhador, e nós não temos autorização e nem vontade de puxar o gatilho e atingir uma pessoa errada, simplesmente para pegar um agente perturbador da ordem pública”, comenta.
Ele explica, “por exemplo, na Segunda Guerra Mundial, sabemos que os países do eixo lutaram contra os países aliados. Você sabe qual tropa é sua amiga. Aqui não tem essa distinção”. Em alguns casos, o próprio soldado que atua nas comunidades, também é morador daquele lugar, o que torna o trabalho do militar ainda mais arriscado. “Se ele falar que é militar, ele morre”, relata o Tenente.